Uma
serra com queimadas, fumaça, fortes odores e muito lixo é o “sejam bem
vindos” do município. (Foto: André Costa/Agência Miséria)
Mãos calejadas, face castigada pelo forte sol e um olhar distante. São marcas de um homem que há 22 anos divide espaço com moscas e urubus. Um homem cuja resposta para a pergunta “Qual seu maior sonhos?” é “Com a vida que levo hoje não posso sonhar com nada”. Um depoimento doloroso, que denuncia as mazelas e condições sub-humanas vividos por muitos brasileiros. Sebastião de Souza Castro, 49 anos, conta que chegou na cidade em 1991 e desde então tem o “lixo como sustento”.
Sebastião
de Souza Castro, 49 anos, conta que chegou na cidade em 1991 e desde
então tem o “lixo como sustento”. (Foto: André Costa/Agência Miséria)
A entrevista segue e, parafraseando o romancista Gabriel de Queiroz, pergunto se “Um homem sem sonhos é um homem sem vida”, Seu Sebastião, inquieto durante todo o momento, pensa alguns segundos e responde, “tomara que não[...] tenho que colocar comida dentro de casa de forma honesta, a mulher [esposa] e três filhos dependem de mim[...] deixo os sonhos com os três [filhos]”, responde em meio a gestos quase automáticos, se abandando com as mãos e expulsando as centenas de milhares de moscas que dão um ar ainda mais deprimente àquele local.
O catador revela a existência de mais “15 ou 20 famílias” que sobrevivem do ofício. Um trabalho árduo, degradante de almas e sonhos, porém, honesto, como faz questão de ressaltar Sebastião. “Infelizmente a vida é assim, uns nascem com muito, outros com quase nada. Nossos político só pensa em enricar [sic] e esquecem do povão. É difícil, é o que resta, mas não estamos roubando, nem matando pra conseguir o feijão com arroz”, relata sem demonstrar preocupação alguma com meia duzia de abutres que brigam pelo pedaço de um osso, há poucos metros.
2014: Além da Copa
O número é surpreendente. Mais de 200 toneladas de lixo são coletados por ano no país. Em média, cada brasileiro produz 1,1 kg de lixo por dia. Contudo, o Congresso Nacional aprovou, após 21 anos de discussões, a lei que prever extinção dos lixões até o ano de 2014. O ano em que alguns (poucos) esperam ansiosamente pelo pontapé da Copa do Mundo, outros tantos anseiam o dia em que terão vidas melhores.
Outro avanço proposto por a lei é que fabricantes, distribuidores e consumidores de limpeza pública sejam obrigados a implantar um sistema de logística reversa, ou seja, uma vez descartadas, as embalagens são de responsabilidade dos próprios fabricantes, que devem criar um sistema para reciclar o produto.
Construção do Aterro Sanitário e a esperança de dias melhores
Há quatro anos o Ministério Público Estadual (MPE) proibiu a construção do aterro sanitário, localizado no Sítio Julião por considerar a área inadequada devido ao alagamento nas estações chuvosas. Além das irregularidades detectadas pelo MPE, SEMACE e IBAMA, a justiça apontou superfaturamento na obra que inicialmente estimava custos de 2,3 milhões de reais.
Em 2011, o Jornal O Povo noticiou a irregularidade, publicando que o então prefeito Agenor Neto (PMDB) seria levado à justiça, através de investigações do MPF. A obra teve um salto de 117%, passando a custar cerca de cinco milhões.
Alheios a toda as denúncias e irregularidades, a realidade é inexorável às famílias que lá “vivem a espera de um milagre”. “As promessas que esse lixão ia acabar é antiga, mais passa ano, entra ano estamos aqui”, diz Sebastião, para logo em seguida cravar: “Torcemos que chegue o dia em que nossos vizinhos sejam humanos e não os urubus”. Vítima de um sistema falho e excludente, o catador de traços dramáticos demonstra que a simpatia e educação não foram jogadas ao lixo.
“Dá licença jovem, tenho que vasculhar àquela área”, aponta com o dedo indicador mostrando o emaranhado de sacos, madeiras e caixas; com a onipresente companhia dos urubus e moscas, pintando de preto um cenário triste, porém, real.
Saiba Mais
Existem 98.138 habitantes no município iguatuense.
Iguatu é o maior polo econômico da região Centro Sul, e ganhou notoriedade nos últimos anos pela realização do “Iguatu Natal de Luz”, quando a cidade transforma-se na “Gramado do Nordeste” (termo dado pelo então prefeito Agenor Neto 2005 - 2012) e atrai milhares de turistas de todo país.
Cidadãos ilustres: Maestro Eleazar de Carvalho e o músico compositor Humberto Teixeira.
Relembre as outras reportagens da série:
Série Especial - Iguatu: Os problemas da saúde na “Gramado do Nordeste”
Série Especial - Iguatu: Os problemas do saneamento básico na “Gramado do Nordeste”
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