domingo, 2 de junho de 2013

Série Especial - Iguatu: Os problemas do saneamento básico na “Gramado do Nordeste”

André Costa
Abrir a porta de sua casa e dar de cara com um “mar de lama” não exclusividade de um ou dois bairros da cidade. (Foto: André Costa/Agência Miséria)
Na segunda reportagem da série especial sobre os problemas do maior polo econômico do Centro Sul Cearense, o Site Miséria mostra os problemas do saneamento básico de Iguatu. Visitamos bairros distintos do município e constatamos a realidade em que muitas famílias vivem em pleno século XXI. Um problema conjuntural que apresenta tentáculos em quase todos os cantos do Brasil, porém, visto de forma quase que natural pelos governantes.

Abrir a porta de sua casa e dar de cara com um “mar de lama” não exclusividade de um ou dois bairros da cidade. Moradores do bairro Paraná convivem em desarmonia com mosquitos e insetos oriundos do esgoto a céu aberto localizado defronte de suas casas. As obras que iniciaram há sete anos estão inacabadas e o canal daquele bairro está parcialmente aberto. As reclamações ultrapassam às fronteiras da “simples fedentina”. Um povo exposto às doenças e à falta de humanidade. Uma parte da sociedade que vive à margem das políticas de inclusão social; retrograda ao desenvolvimento.

Moradores do bairro Paraná convivem em desarmonia com mosquitos e insetos oriundos do esgoto a céu aberto localizado defronte de suas casas. As obras que iniciaram há sete anos estão inacabadas e o canal daquele bairro está parcialmente aberto. (Foto: André Costa/Agência Miséria)

“Não tenho o que falar. Bata a foto e ela dirá tudo”, relata a moradora da principal rua de acesso aos Bairros Areia e João Paulo II. O esgoto formado defronte à sua residencia, existe, segundo ela, há anos, e pouco se faz para contê-lo. “Isso aqui é antigo, desde quando era calçamento existe essa imundice. Asfaltaram a rua e a situação continua a mesma”, explica. De acordo com ela, no período invernoso a situação tende a piorar. “Qualquer chuvinha isso aqui fica cheio da água, os carros e motos passam com rapidez e espirram água para todo canto, molhando paredes, casas e quem tiver por perto”. Além das águas fétidas, a dona de casa reclama dos pernilongos que se reproduzem no esgoto, gerando incomodo durante as noites e pondo em risco à população.

Os bairros periféricos não gozam de exclusividade no que diz respeito aos esgotos a céu aberto que cortam ruas e avenidas. Nas principais vias da cidade, o problema dá mostras de que a falta de investimento no saneamento básico é generalizado. Avenida Perimetral, Rua Cruzeiro do Sul e Agenor Araújo, três dos mais importantes logradouros da cidade, corroboram às queixas supracitadas. No Centro da cidade é possível flagrar os o esgoto à céu aberto, dividindo espaço com lojas, consumidores, veículos e transeuntes.

Os bairros periféricos não gozam de exclusividade no que diz respeito aos esgotos a céu aberto que cortam ruas e avenidas. (Foto: André Costa/Agência Miséria)

80% dos municípios


"Hoje a situação no Ceará é que, dos 184 municípios, apenas 35 tem seus planos de saneamento básico concluídos. Até o final do ano, teremos no máximo 50% finalizados", alerta Alceu Galvão, coordenador de Saneamento Básico da Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Ceará (ARCE). A entidade auxilia os municípios na criação de políticas para os planos municipais, em parceria com a Associação dos Prefeitos do Estado do Ceará (APRECE).

De acordo com levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), através da Pesquisa de Informações Básicas Municipais – Perfil dos Municípios (MUNIC) apenas um terço dos municípios cearenses possuem política de saneamento básico. Políticas que nem sempre se refletem na realização das obras.

No último dia 11 de Novembro à reportagem do jornal Diário do Nordeste, através do Jornalista Roberto Moreira noticiou que “Agenor Neto [então prefeito do município] conseguiu com o senador Eunício Oliveira R$ 60 milhões para saneamento. Iguatu será o  primeiro município a ter 100% de saneamento dos seus canais e lagoas, um feito”. Até esta data, a realidade, a exemplo da saúde pública de Iguatu, destoa das entrevistas concedidas em blogs, site e rádios, bem como dos discursos realizados por alguns governantes.

Falta de drenagem e ruas alagadas

Além da falta de saneamento em quase todo o território iguatuense, a população enfrenta, nos períodos chuvosos, enchentes e alagamentos. Ruas com precariedade de drenagem, falta de locais apropriados para escoamento das águas e limpeza adequada nas “bocas de lobos” completam a equação resultante em vias intransitáveis e casas invadidas pelas águas da chuva.

Chuvas de pequeno porte (5 à 15 milímetros) são o suficientes para causa transtornos a dadas localidades. A aposentada Maria Uchôa, moradora da Rua Agenor Araújo relata “os apuros” em que ela é submetidas todos os anos com a chegada da chuva. “Qualquer gota que caia do céu já é motivo de preocupação, o que era pra ser comemorado por aliviar o calor e trazer melhorias para plantação e gado é motivo de dor de cabeça. Essas ruas que cortam a Agenor Araújo viram verdadeiros rios, ninguém consegue passar, o lixo acumula, o fedor sobe e as muriçocas a noite são insuportáveis”, expõe.

No último dia 09 de Maio, a Fundação Cearense de Metereologia e Recursos Hídricos (FUNCEME) registrou pluviosidade de 98 milímetros na zona urbana. (Foto: André Costa/Agência Miséria)

Na maior precipitação do ano no município, vários bairros foram invadidos pelas águas, gerando caos e medo na população. No último dia 09 de Maio, a Fundação Cearense de Metereologia e Recursos Hídricos (FUNCEME) registrou pluviosidade de 98 milímetros na zona urbana. Os bairros mais atingidos foram a Vila Neuma, Paraná, Centro e os periféricos, em que a situação é ainda pior, por decorrência da falta de assistência do poder público.  A correnteza da água leva consigo tudo que vem pela frente, sobretudo a esperança de um povo que sonha com o dia em que o “brilho e a magia dos desfiles natalinos” ultrapassem a fronteira do “mundo imaginário” e agraciem àqueles que pagam seus (altos) impostos afim de terem, no minimo, condições dignas de moradia.

Saiba Mais

Existem 98.138 habitantes no município iguatuense.
Iguatu é o maior polo econômico da região Centro Sul, e ganhou notoriedade nos últimos anos pela realização do “Iguatu Natal de Luz”, quando a cidade transforma-se na “Gramado do Nordeste” e atrai milhares de turistas de todo país.
Cidadãos ilustres: Maestro Eleazar de Carvalho e o músico compositor Humberto Teixeira.

Relembre a primeira reportagem da série especial:
Série Especial - Iguatu: Os problemas da saúde na “Gramado do Nordeste”

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