O ex-ministro e
ex-governador Ciro Gomes, que teve papel determinante na campanha
vitoriosa de Roberto Cláudio à Prefeitura de Fortaleza, em entrevista ao
Jornal Folha de São Paulo, fez uma avaliação sobre o resultado das
eleições municipais e foi lacônico: o PSB cresce com a crise ética do PT
e acusa o partido do ex-presidente Lula de ser fisiológico e
clientelista.
Concluído o processo das eleições municipais, Ciro volta ao passado,
avalia ter sido um erro o PSB não disputar a Presidência da República em
2010 e, na sucessão em 2014, segue a linha do irmão Cid: por lealdade, o
PSB deve apoiar à reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Ciro avalia que, nos últimos 10 anos, o PT avançou, conquistou poder
político, mas "tem frustrado muito o Brasil em determinados valores".
E, na entrevista à Folha de São Paulo, foi bem mais além: "Parte do
PT também ficou fisiológica, clientelista", disse Ciro, para quem não
será a "direita, muito menos o PSDB, que vai se apropriar da
representação desses valores de decência, competência, compromisso de
esquerda verdadeiro, não retórico".
Abaixo, confira a entrevista de Ciro Gomes ao Jornal Folha de São Paulo.
Ciro diz que PSB cresce na esteira da crise de valores do PT
Um dos principais nomes do PSB, o ex-ministro Ciro Gomes associa o crescimento de seu partido a uma crise de valores do PT.
Para ele, o avanço é "natural", considerando que o PT "tem frustrado muito o Brasil em determinados valores".
"Parte do PT também ficou fisiológica, clientelista", disse Ciro,
para quem não será a "direita, muito menos o PSDB, que vai se apropriar
da representação desses valores de decência, competência, compromisso de
esquerda verdadeiro, não retórico".
Alan Marques - 6.out.2010/Folhapress
O ex-ministro Ciro Gomes, que remete o crescimento do seu PSB a uma crise no PT; partido conquistou 440 municípios
"Isso naturalmente o PSB, na medida em que vai militando, vai ganhando.
Não é uma coisa hostil ao PT, mas é natural que isso vai acontecer",
afirmou Ciro, em conversa com a Folha.
Ciro, contudo, diz não ver nesse cenário de crescimento municipal --o
PSB tem agora cerca de 440 municípios, 40% a mais do que em 2008--
motivo para avaliar que o partido esteja forte no plano nacional para
disputar a Presidência da República em condições de igualdade com outras
siglas.
Ele dá o exemplo do PMDB, que em toda eleição municipal dos últimos
tempos é o partido que mais elege prefeitos, mas não consegue concorrer à
Presidência.
Para Ciro, o que credencia um partido a ter um projeto nacional solo
são os resultados de suas gestões e o diálogo que deve ter com os
setores da cultura, intelectuais e jovens --ponto "deserdado pelo PT",
diz.
Quanto às gestões, ele disse que o partido está no bom caminho com seu
irmão Cid Gomes, que governa o Ceará, com Eduardo Campos, que governa
Pernambuco, e com o prefeito Marcio Lacerda, reeleito em Belo Horizonte.
Mas afirma ser pouco para pensar em voo solo. "Para administrar o
país está longe", afirmou ele --apesar de considerar que o PSB tem
potenciais candidatos "prontos" para essa missão presidencial, como
Eduardo Campos.
ERRO
Ciro disse que o PSB errou em não disputar a Presidência em 2010, quando
havia uma transição e que a candidatura Dilma Rousseff era uma "aposta
temerária".
Aora que considera que o governo Dilma "deu certo, graças a Deus",
avalia que o PSB deve apoiar a reeleição da presidente por "decência e
lealdade", senão terá que ter uma boa justificativa para sair do
governo.
Se tivesse concorrido em 2010, ele acha que o PSB poderia estar em
melhor situação hoje. "A gente [PSB] poderia ter participado com a
chance de ganhar ou no mínimo um terceiro lugar relevante, que acabou
sendo galvanizado pela Marina [Silva, então no PV], que despolitizou
esse voto".
Ele acrescentou: "A classe média, essa que valoriza a ética, a
decência, que está procurando projeto para o país, que estava votando
comigo, ela [Marina] despolitizou esse grande movimento", afirmou.
Ciro disse que o PSB poderia ter "forçado uma inflexão mais à
esquerda" --dando outra opção para a presidente Dilma governar além do
PT-PMDB.
AÉCIO
Ex-ministro do governo Lula, Ciro diz não considerar que PSB e PSDB
estejam se aproximando. "Não tem nada, essa é uma eleição municipal",
disse.
Ele não enxerga ainda mudanças no PSDB e disse que o senador tucano
Aécio Neves (MG) "tem debilidades que estão se revelando agora muito
graves nessa experiência dele em Brasília".
"O Aécio não projeta uma compreensão do país. Eu gosto muito dele,
sou muito amigo dele. O antagonismo do Aécio não é de valores, assim na
minha mente. Poderia ser, porque ele representa coisas muito melhores do
que o PSDB de São Paulo representa. Ele parece querer conciliar com
isso. Então vai explicar essa contradição, o país não vai voltar. O PT
só perderá [a eleição de 2014] se alguma coisa muito melhor aparecer.
Não existe hoje ainda", disse.
Ciro acaba de atuar como coordenador político da campanha vitoriosa do
PSB contra o PT em Fortaleza. Ele tem dito que agora vai se "aposentar".
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