terça-feira, 29 de novembro de 2011

Itamaraty prepara reabertura da embaixada brasileira em Bagdá


O Ministério das Relações Exteriores (MRE) planeja reabrir nos próximos meses a embaixada brasileira em Bagdá, no Iraque. O embaixador brasileiro Ánuar Nahes, que hoje atua em Doha, no Qatar, viajou no domingo (27) para a capital iraquiana, onde pretende acertar detalhes de segurança para que o Brasil reinstale sua representação ali. Nahes está coordenando a logística da mudança física da representação brasileira para Bagdá, e vai assumir a embaixada no final deste ano.

Em entrevista ao G1 nesta segunda-feira (28), por telefone, Nahes contou que chegou a ouvir uma explosão enquanto estava na rua. "De repente, ouvimos uma explosão de um carro-bomba no checkpoint perto do Parlamento. É estranho, pois acontecem coisas em quarteirões distantes, e no resto da cidade a vida continua normal", disse.

O embaixador contou que já foi fazer a vistoria do local onde vai funcionar a embaixada, que fica fora da Zona Verde (área mais protegida por militares). "Ainda não deu para ter uma impressão muito clara de realidade por aqui, mas percebe-se que a vida transcorre normalmente, com pessoas na rua, passeando, andando de carro", disse.

Segurança
O embaixador viajou no domingo (27) e vai ficar em Bagdá até o dia 2 de dezembro. “Vou conversar com as duas melhores empresas de segurança de Bagdá, que já cuidam de outras embaixadas, para acertar detalhes da proteção”, disse Nahes, em entrevista ao G1 no sábado (26). Ele contou que sabe desde março que vai assumir a embaixada no lugar do embaixador Bernardo de Azevedo Brito e disse que ainda não tem uma data para a reinstalação da representação em Bagdá. “Vamos fazer a mudança por etapas”, explicou.

Desde a invasão norte-americana ao país árabe, em 2003, a diplomacia brasileira se retirou de Bagdá, e em seguida instalou os embaixadores voltados ao Iraque na Jordânia, vizinha menos atingida pela onda de violência que se seguiu à guerra.

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EUA se preparam para sair do IraqueA principal preocupação da embaixada brasileira neste período de mudança para Bagdá é que ela ocorre na mesma época em que está planejada a retirada oficial das tropas norte-americanas do país. O presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou em outubro a confirmação do projeto de retirar do Iraque todos os 50 mil soldados que atualmente fazem a transição da segurança para o governo iraquiano.

“Quando os americanos saírem, vai haver um pequeno vácuo de poder, mas o governo iraquiano está se preparando pra ocupar esse espaço”, disse Nahes. O problema mais evidente, segundo ele, é o crescimento das atividades do crime organizado no país. “Os anos de sanções fizeram um grande estrago no Iraque. Vai demorar para o país se recuperar”, disse.

Transição
Nahes deve se mudar para Amã, na Jordânia, em 20 de dezembro. De lá, pretende “tocar as obras e tomar providências logísticas para a mudança física”, disse. A embaixada em Bagdá deve ter até sete funcionários do Itamaraty, sendo cinco diplomatas e dois oficiais ou assistentes.

Esta é a primeira vez que o embaixador vai ao Iraque, mas Nahes, que tem 30 anos de carreira diplomática, diz que “era a pessoa mais indicada” para assumir a representação neste momento. “Minha carreira foi voltada principalmente para o Oriente Médio”, disse.

Segundo ele, não há “heroísmo” em sua missão em reabrir a embaixada. “O Itamaraty não se comporta com base no heroísmo, e oferece condições vantajosas” para quem assume embaixadas em áreas mais perigosas. “Temos condições típicas de ‘insalubridade’. Temos tempo livre fora do Iraque, compensações salariais, funcionais, benefícios de promoção. Há atrativos”, explicou.

Para o embaixador, apesar da divulgação regular de atentados violentos no Iraque e em outros países do Oriente Médio, a vida cotidiana continua normalmente. “A violência no Oriente Médio é diferente da que existe no Brasil. Não tem assalto violento, arrastão, isso é contra os princípios deles. No Iraque, o que existe hoje é uma violência politica da qual nós não fazemos parte. Hoje em dia, diplomatas estrangeiros não são alvos”, disse.

Relação bilateral
Segundo o relatório do MRE a respeito de brasileiros no exterior divulgado neste ano, há 15 brasileiros vivendo atualmente no Iraque. Nahes disse que a embaixada não tem informações a respeito de quem são essas pessoas, mas explicou que vai procurar descobrir quem são assim que assumir o posto.

Quando forem superados os entraves relacionados à segurança e a embaixada brasileira for reinstalada em Bagdá, o principal foco de trabalho na relação bilateral deve ser o de reforçar o comércio entre os dois países, segundo o embaixador.

“O Iraque é um país tão promissor, tão rico, que mesmo sem fazer nenhum esforço, só pela inércia, pela atração natural, o comércio bilateral vai atingir quase US$ 1 bilhão neste ano”, disse. Segundo ele, os dois países têm uma relação forte e de décadas, e o Brasil é visto como uma alternativa à relação com países da Europa ou os Estados Unidos. “As perspectivas são muito animadoras, e a única coisa que pode pôr a perder é a questão da segurança. Nunca tivemos problemas políticos.”

As exportações brasileiras ao Iraque somaram, de janeiro a outubro, US$ 603.002.031,44, segundo dados da Câmara de Comércio e Indústria Brasil Iraque. Os 15 produtos mais exportados pelo Brasil são frango, açúcar, carne bovina, peixe, máquinas de construção, cigarro, incubadoras para bebês, café solúvel descafeinado, aparelhos cirúrgicos, refrigeradores, lidocaína e outros medicamentos anestésicos, ceifadeiras e debulhadoras, embreagens e componentes para tratores e outros veículos automotores, bombons, caramelos e demais confeitos sem cacau, gomas de marcar sem açúcar e facas de cozinha.

tópicos: Iraque

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