segunda-feira, 14 de novembro de 2011
Fagner: “Lula foi cafajeste e Ciro, otário”
“Arredio a entrevistas, principalmente políticas, o cantor Raimundo Fagner rompeu o silêncio e numa entrevista exclusiva ao Blog de Magno Martins, da Folha de Pernambuco, fez revelações bombásticas. Amigo do ex-ministro Ciro Gomes, a quem já emprestou o seu talento em companhas políticas, Fagner acha que ele (Ciro) caiu numa armadilha do ex-presidente Lula, quando este o influenciou a transferir o domicílio eleitoral para disputar o Governo de São Paulo e em seguida o abandonou. “Naquele episódo, o Lula agiu como cafageste e Ciro como otário”, desabafou.
Fagner revela que, embora não conheça bem o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), nutre por ele admiração e até aposta nele numa disputa presidencial, mas faz uma advertência. Julga o socialista tímido e acha, por isso mesmo, que deveria divulgar mais para o País as suas ideias. “O Brasil não sabe ainda o que o Eduardo pensa”, diz. Confira abaixo a entrevista, concedida sábado passado, à sombra de um pé de cajueiro na Pousada de Brotas, em Afogados da Ingazeira, a 386 km do Recife, minutos antes de fazer um show na festa em homenagem ao compositor José Dantas, em Carnaíba, cidade vizinha.
Blog – Como vê hoje o cenário da política nacional com a demissão de tantos ministros por corrupção?
Raimundo Fagner – Isso é o retrato da política no Brasil, que vem empurrando tudo com a barriga. O loteamento de cargos, as coligações que se fazem para chegar ao poder, tudo isso representa uma prática que a gente vem tendo aqui no Brasil muito forte e que impede que pessoas que mais credenciadas possam assumir determinados cargos. Não se escolhem pessoas competentes, porque a prioridade é política. Só uma reforma política talvez fosse capaz de corrigirv esse erro, que é muito grave. No Brasil, os partidos vão tomando conta dos cargos e termina acontecendo o que está acontecendo aí (as demissões dos ministros), o que, convenhamos, da forma que observamos e constatamos, é uma grande vergonha.
B- Trata-se de uma herança maldita de Lula?
RF – Com certeza! É uma herança do Lula, não só isso, mas tantas outras coisas. Agora, esse momento da Copa, é também uma herança do Lula. Talvez ele, por estar no final de mandato, tenha deixado de negociar com a Fifa. Do jeito que a Fifa, impondo. E ele mesmo não mais aí para defender os pontos que são necessários. Até porque, nós somos o Paísdo futebol e temos que ter certa prioridade. A Fifa não é dona de tudo. Essa estória está muito muito mal contada. A Fifa atropela em todo canto, com exceção de alguns países. Aqui, no Brasil, é muito difícil, porque já está muito em cima e talvez o Lula tenha aberto essa porteira. A Dilma vai ter dificuldade para botar a casa em ordem e dar os direitos que o povo brasileiro tem para assistir uma Copa do Mundo. Corremos o risco de termos no Brasil a copa do estrangeiro.
B – Falando em Copa do Mundo, Fortaleza, a capital do seu Estado, ganhou o direito de sediar os jogos da seleção brasileira. O que pesou mais nisso?
RF – Eu acho que, primeiro, a influência política.
B – Tem tudo a ver com a amizade do Ciro Gomes com Ricardo Teixeira?
RF – Olha, o Teixeira é amigo, primeiro lá atrás, do Tasso (Jereissati), de colégio no Rio. Meu irmão, o Fares, que foi presidente de Federação Cearense de Futebol durante muito anos, sempre teve um relacionamento muito estreito e de muito respeito com Ricardo. Teixeira sempre privilegiou as gestões de Fares no Ceará. O Cid também tem feito um papel extraordinário em conduzir aquilo que a Fifa determina que é necessário. Portanto, nós estamos adiantados no estádio e num Estado em grande desenvolvimento e visibilidade turística, além da proximidade com a Europa. Tem também a relação política e futebol que o Ricardo sempre teve com o Estado do Ceará. Isso vem não é de agora, vem do Tasso, vem da gestão do Fares, meu irmão, e do que Cid está fazendo, tanto que o nosso estádio é o mais adiantado e isso é muito bom para o Nordeste. O privilégio sempre foi de São Paulo e Rio, Rio Grande do Sul, Minas Gerais. E a gente daqui não tem que ficar com picuinha tipo por que o Ceará? Enfim, temos que ficar felizes por ser uma cidade do Nordeste.
B – O senhor acha que Lula tratou bem o Nordeste? E a Dilma vem dando o mesmo tratamento?
RF – Eu não sei, porque não estou acompanhando o Governo Dilma. Lula deu muita prioridade ao Nordeste, principalmente aqui para Pernambuco. O governador Eduardo Campos ganhou muito com isso eu acho que ele poderia ser um pouco menos tímido. Talvez seja ainda as asas do Lula que abrandam nas suas costas, mas acho que ele deveria ser um pouco mais aguerrido.
B – Eduardo seria um bom candidato a presidente?
RF – É um menino extraordinário, mas para isso não deve ficar muito quieto. Ele tem que mostrar um pouco as opiniões dele, que ninguém conhece ainda no Brasil. Nós sabemos que ele é um bom gestor, que Pernambuco está num momento muito bom também. Isso, provavelmente favorecido pelo carinho que Lula tem com ele e com a sua terra natal. Acho que falta um pouco mais para ele se apresentar para o jogo do ‘buscar a bola’ e não ficar só recebendo. Jogo é jogo, você não pode só ficar recebendo bola boa, tem que sair a campo né? Não tão como Ciro, que é um cara mais despojado, tem a opinião solta, a língua solta. Mas ele pode também se deslocar, porque no futebol é aquele negócio, quem pede tem a preferência.
B – Quando o senhor diz que o Ciro tem a língua solta é uma crítica ao seu estilo de falar demais e na hora errada?
RF – O Ciro fala coisas necessárias, só que a mediocridade da nossa política não permite isso. A gente vive ao lado de um bando de corruptos que não diz nada e quando alguém diz reclama. O Ciro é um cara muito autêntico, um cara de personalidade, tem uma história política extraordinária, muitos cargos, ministro, governador, prefeito e ele tem essa condição de falar a hora que quer. Eu acho que se fosse mais esperto, se fosse mais malandro ( mas ele é puro e sincero), não cairia nessa armadilha do Lula de levá-lo para trocar o seu domicílio eleitoral para São Paulo. Lula fez um mal horrível ao Ciro. Eu acho que o Lula foi terrível com o Ciro, não correspondeu ao que o Ciro fez com ele. Na hora em que o Lula precisou do Ciro, num primeiro momento, o Ciro foi e priorizou o Lula para poder contribuir com o País, mudou de lado no seu projeto p olítico e levou um belo drible do Lula. O Lula nessa situação foi um cafajeste e o Ciro otário.
B – Em relação ao PSB, o senhor elogiou o governador Eduardo Campos, mas o Ciro é um grande concorrente de Eduardo para presidente da república dentro do seu partido, no caso o PSB…
RF – Com certeza! Mas, para isso o Eduardo precisa se mostrar mais ao País. O povo já conhece o Ciro no que ele sabe fazer de bom e também aonde ele se perde e o Eduardo as pessoas precisam conhecer mais para ele chegar lá. É aquela velha estória de esperar o cavalo passar selado e montar na hora certa. Ele tem uma ligação com Aécio, o Ciro também tem. O fato é que o quadro político no Brasil ainda está muito confuso.
B – Como artista, o senhor se sente frustrado com tratamento que o governo tem dado a classe. Esperava mais do governo?
RF – O bom cabrito não berra. Eu não dependo muito do governo. Na minha profissão sempre fui muito autônomo. Eu nunca pedi incentivo fiscal e nunca fiz nada buscando o governo, porque eu sempre tive grande público que sempre me prestigiou, que enche meus shows. Eu acho que quem precisa mais do governo são os artistas que têm mais dificuldades, que estão começando a carreira, aqueles dos estados mais pobres do Brasil, onde a cultura precisa ser mais incentivada e que precisam ter mais investimentos. Eu sempre me senti assim. Acho até horrível ver um artista de nome pegando dois, três milhões do governo para seus projetos, isso é ridículo, porque esses já conquistaram seu público e têm condições de ganhar dinheiro. Então, eu nunca corri atrás de dinheiro de governo e por conta disso não fico sabendo muito quais são os avanços. Eu sei qu e na minha área tem um avanço que a gente busca através da PEC 098, que diminui a carga tributária para que se possa trabalhar com mais condição e possa se enfrentar a pirataria que é nefasta. Mas ela existe para todos os tipos de produtos no Brasil. É uma questão de Polícia federal no contexto da sociedade. Essa PEC poderá facilitar muito a busca de produções, a diminuição dos impostos que são muitos para todas as categorias. Agora, eu não acho que seja correto um artista pedir muita grana pra fazer seus projetos, principalmente aqueles que já tem o sucesso garantido e por isso as condições de ganhar dinheiro.
B- O senhor não faz campanha para políticos?
RF – Faço e já fiz muitas, principalmente no Ceará, onde sou muito amigo do Ciro e do Tasso Jereissati. Já cantei também em Minas para o Aécio Neves, que fez uma parceria comigo numa ONG que abri no Ceará. Isso não significa, entretanto, envolvimento direto com a política nem compromisso direto com político A ou B. Eu sou um artista crítico em relação à postura dos políticos brasileiros, que deixam muito a desejar. O tempo passa e não vemos mudanças para melhor no País. Temos agora uma safra de bons políticos, como o próprio Aécio, o Ciro e o Eduardo, este ainda bastante desconhecido e que precisa dizer ao País o que pensa sobre o Brasil, saindo de Pernambuco, onde acompanho a boa avaliação do seu governo.
B – O senhor é feliz?
RF – Sim, pelo que faço. O homem tem que fazer o que gosta. Meu trabalho tem uma identidade muito forte com o povo brasileiro, daí o sucesso pelo País inteiro. Sou feliz e resolvido. Quando subo num palanque e vejo o povo emocionado acompanhar as minhas canções românticas me sinto plenamente realizado.
B – E sua relação com a fama e o público?
RF – Natural. Sou daqueles artistas que compreendo perfeitamente o sentimento e alma das pessoas. Dou autógrafos, abraços, converso com o povo, ou seja, não tenho distanciamento dos fãs, que são a razão e o objetivo do trabalho de todo e qualquer artista.
B – Pensa em um dia largar a música e disputar um mandato eletivo?
RF – Não, a política brasileira está num nível execrável. Com raras exceções, os políticos brasileiros não sabem honrar o voto do povo. Não tenho vocação para político. Sou um artista que canta o que o povo quer ouvir, que emociono corações. Não vejo que contribuição poderia dar ao País num momento em que a política se deteriorou tanto.
B – Muitos sonhos ainda ou o projeto de se recolher na casa que o senhor tem na beira do Orós, no Ceará?
RF – Não tenho projeto para me isolar no campo, indo para um refúgio como a minha casa em Orós, minha cidade, que adoro. Quero continuar soltando a minha voz e tenho projetos pela frente, como participar de competições internacionais de corrida. Adoro correr e jogar bola, praticar esportes. Não quero chegar ao final da minha jornada sem participar de uma grande maratona mundial de corrida.”
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