quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Situação crítica é registrada em 65% dos açudes

                                        
O Ceará acumula neste mês uma média de 35,75% de água em 144 açudes monitorados em 12 bacias hidrográficas pela Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh). Do total, 94 reservatórios (65,2%) apresentam volume inferior a 30%. Em outubro de 2012, eram 43 açudes nesta situação. O quadro atual é considerado muito crítico e preocupante. O perfil mais grave é a Bacia dos Sertões de Crateús que está com um índice atual de 5,52%, considerado como muito crítico.

Há um mês, a reserva hídrica do Estado era de 38,4%. A tendência para os próximos três meses é de perda do volume acumulado em decorrência do consumo e da evaporação, em torno de 3% ao mês. O monitoramento das bacias hidrográficas é acompanhado mensalmente por técnicos da Cogerh e avaliado pelo governo do Estado. A redução do volume armazenado traz preocupação para as autoridades e para os moradores do Interior.

O acesso à água potável torna-se cada vez mais difícil para milhares de famílias de cidades e de áreas rurais. Depois de anos seguidos de seca e de perda de volume de água nos açudes, os olhos do sertanejo estão voltados para o céu e o coração para Deus, em preces cada vez mais constantes para que em 2014 ocorra um bom inverno e recarga dos reservatórios com intensas chuvas.

De acordo com monitoramento da Cogerh, a atual situação da Bacia dos Sertões de Crateús é considerada muito crítica. Nos últimos dois anos, sempre permaneceu em situação de alerta e nesse período não houve recarga. O quadro é considerado crítico quando o reservatório acumula entre 10% e 30%. É o que ocorre com a Bacia do Banabuiú (28,14%), Baixo Jaguaribe (12,82), Curu (11,03%) e Litoral (26,40%).
Prognóstico

A situação é de alerta na Bacia do Médio Jaguaribe (41,46%), Bacia do Acaraú (31,12%), Bacia Metropolitana (30,64%) e Coreaú (32,14%). Apenas duas bacias apresentam perfil confortável: Bacia da Serra da Ibiapaba (50,16%) e do Alto Jaguaribe (49,9%), quando ao volume hídrico armazenado. Nos últimos dez anos, desde 2004, a Bacia do Salgado, no Sul do Estado, na região do Cariri cearense sempre apresentou um status de “confortável”, mas neste ano perdeu água e passou a ser considerada crítica.

A Funceme vai divulgar o primeiro boletim com prognóstico para a quadra invernosa (fevereiro a maio) em fins de janeiro de 2014, após avaliação de vários fatores climáticos, temperatura dos oceanos Pacífico e Atlântico e troca de informações com outros centros meteorológicos.

Entretanto, a novidade é que deve ser divulgado em novembro próximo um prognóstico parcial para pré-estação chuvosa (dezembro e janeiro).

O Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), divulgou em setembro passado prognóstico para o trimestre de outubro a dezembro com chuva dentro da normalidade para a região Nordeste. Nos próximos dias deve anunciar previsão para o primeiro trimestre de 2014.

Mediante a perda de volume dos açudes, a Cogerh promove periodicamente reunião de avaliação de alocação de água negociada com os integrantes das bacias hidrográficas. O objetivo é avaliar a situação atual e a demanda para definir se mantém o volume de liberação de água acordado na última reunião ou se amplia ou mesmo reduz. São centenas de sistemas no Ceará e cada um segue calendário e vazão específicos.
Perdas

Segundo a Funceme, a quadra invernosa de 2013 ficou 37% abaixo da média histórica. Tendo como base o início deste ano, todas as bacias hidrográficas registraram perda de água armazenada. A Bacia dos Sertões de Crateús acumulava em média 13,76% e agora caiu para 5,52%. A do Alto Jaguaribe despencou de 65% para 25%. A Bacia do Curu reduziu de 21% para 11%. A Bacia do Salgado registrou redução de 33% para 25%.

O maior volume acumulado no fim da estação chuvosa (maio) de 2012 era na Bacia da Serra da Ibiapaba com 86%, seguida do Alto Jaguaribe com 85%. Os dados mostram que na Bacia dos Sertões de Crateús houve uma redução de 33% para 5% entre maio do ano passado e outubro de 2013.
No período de 2005 a 2011, o Ceará vivenciou uma situação confortável com volume acumulado acima de 70% nos reservatórios monitorados pela Cogerh. Em 2011, chegou a 85% em média, entretanto, atualmente está com 35,75%.

Dos dez reservatórios que integram a Bacia dos Sertões de Crateús, o açude Sucesso secou totalmente e outros estão com volume inferior a 5%. São eles: Em Independência – Cupim (0,41%) e Jaburu II (1,69%); Colina em Quiterianopólis (2,71%), e Carnaúbal em Crateús (2,80%).

Açudes estratégicos para o Estado que asseguram o abastecimento de várias cidades e perenização de rios são acompanhados com maior atenção. O Castanhão, o maior do Estado, que realimenta o sistema da Região Metropolitana de Fortaleza e o Baixo Jaguaribe, está com volume de 44,67%; na Bacia do Alto Jaguaribe, o Orós, o segundo maior do Ceará, acumula 55,96%; e o Arneiroz II tem apenas 25%.

A situação mais confortável é do Açude Gavião, em Pacatuba, na Região Metropolitana de Fortaleza, que acumula 92% de sua capacidade. O Açude Quixeramobim apresenta 73% do volume e o Banabuiú com 31,62%, no Sertão Central.

No município de Tauá, na Bacia do Alto Jaguaribe, o Açude Forquilha II secou e o Favelas apresenta apenas 15% de seu volume. A situação é muito crítica nos dois principais reservatórios: Várzea do Boi (1,54%) e Trici (1,73%). O Açude Trussu que abastece a cidade de Iguatu, uma das dez maiores do Interior, está com 64%. Em Campos Sales, o Açude Poço da Pedra tem 9,81% e a população vem enfrentando dificuldade de abastecimento de água.

Na cidade de Acopiara, o Açude Quincoé secou e a população também enfrenta racionamento de água. A única alternativa é a construção de uma adutora de emergência a partir do Açude Trussu em Iguatu. A obra está em andamento e é feita em ritmo de urgência. O açude Lima Campos, um dos mais antigos do Ceará, construído em 1932, e que abastece a cidade de Icó está com um volume de 57%.

A Cagece informa que das 251 localidades operadas pela empresa, com abastecimento hídrico, cerca de 20 estão sofrendo por falta de água devido ao período de estiagem.

Açude Sousa chega a “volume morto”

Canindé A principal fonte de abastecimento de água neste município, o Açude Sousa, com capacidade para 30,8 milhões de metros cúbicos, está desde o dia 18 passado com o seu bombeamento suspenso. O colapso na cidade tem sido evitado, com a oferta do Açude São Mateus, mas que também já com nível crítico de reserva hídrica. Há tempos que a comunidade local já reclamava da qualidade da água do Açude Sousa.
 
Açude Sousa é a principal fonte de abastecimento de Canindé. A água já se encontra distante de seu volume cheio e mais parece um deserto FOTO: A. C. ALVES

Ao invés de ser transparente, a cor se apresentava verde e com mau cheiro constante. A maioria dos moradores, tanto das proximidades do reservatório quanto na sede de Canindé, estava evitando o produto para beber.

“Pela manhã, a gente tem que encher tudo que é vasilha para garantir água. Mesmo com o esforço do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE). É muito triste a situação da cidade, que enfrenta um racionamento alternado para não gerar conflitos´´, informou o estudante Francisco Martins dos Santos.

A reportagem esteve no reservatório e pode constatar que é possível ainda caminhar dentro do açude sem que o nível da água fique acima do joelho.

A situação precária do açude e, consequentemente, dos moradores é confirmada pelo agricultor Walter Porfírio, 25 anos, que tenta tirar o resto do peixe existente em partes que ainda têm água. Com a qualidade da água bastante comprometida, é impossível manter o abastecimento para a população.

“Passamos a gastar muito dinheiro comprando água para beber, já que a água do açude está ruim”, salienta. Para ele, que mora perto do reservatório construído pelo Governo do Estado, nunca mais foi possível ver o açude sangrar, em decorrência do baixo volume.

Sofrimento

“Vai ser complicado se a gente ficar sem água. Espero que chova logo e melhore nossa vida. Todos os moradores precisam do açude e de água limpa”, diz.

De acordo com Walter, é um sofrimento ter que pegar água todos os dias nos poços que foram instalados pela Prefeitura de Canindé. Na companhia do filho, ele pega água em um dessalinizador no bairro da Palestina que fica próximo ao segundo maior açude da cidade, o São Matheus que também encontra-se com sua capacidade reduzida.

Baldes são utilizados na tentativa de armazenar a água para o consumo da família. “O Presidente do SAAE Nelson Bandeira disse que todos os esforços estão concentrados na campanha de racionamento do consumo. “A água que a gente tem aqui vai para a sede de forma tratada e não coloca em risco a saúde dos habitantes”. A nossa água passa por um tratamento rotineiro e sai dos açudes direto para a estação de tratamento, e, depois vai para as nossas casas”, diz.

Se o problema persistir e não chover nos próximos meses no município, há uma adutora instalada em fase de experiência saindo do açude escuridão para a ETA instalada no bairro do Monte, garantindo assim possibilidade de atender a demanda até a chegada do próximo inverno.

Emergência

“Enviamos documentos esclarecendo nossa situação aos departamentos responsáveis. Estamos esperando uma ação emergencial para a construção de mais poços na cidade”, diz o prefeito Celso Crisóstomo.
Conforme ele, os investimentos para melhorar a qualidade da água aumentaram. Mesmo assim, a população ainda continua com problemas principalmente nas partes mais altas.

Segundo o Presidente do SAAE, já foram perfurados poços nos bairros de Santa Luiza, Canindezinho, Palestina, Campinas, Capitão Pedro Sampaio, Largo Orebe, todos eles dotados de estrutura para lançar a água na rede de distribuição já tratada´´.
Fonte: Diário do Nordeste

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